Como ser um tradutor profissional?

balaio

O mercado de tradução já me foi definido por uma amiga como um balaio de gato. Não posso discordar dela, já vi cada coisa por aí… A questão é que uma grande parte do nosso mercado ainda não pode ser qualificado como profissional. Como ser um tradutor profissional, então? Calma, vou tentar explicar.

O mercado brasileiro

Acho que por não ser uma profissão regulamentada – em consequência, sem a proteção de conselhos profissionais, como é o caso dos advogados, médicos, engenheiros e tantos outros – no Brasil, o mercado de tradução abrange todo tipo de profissional. Até os não profissionais.

Muita gente leva tradução na flauta, como hobby, e se esquece que nosso ofício é um dos mais beneficiados pela globalização. Cada vez mais, agências de tradução estrangeiras estão em busca de tradutores e revisores que sejam falantes nativos de português do Brasil. O mercado lá fora, extremamente profissional, leva esse conceito de falante nativo a sério. Ou seja, já passou da hora da gente aproveitar essa fatia do mercado mundial.

Falo isso com tranquilidade porque, cá entre nós, com uma concorrência despreparada como a do nosso mercado local – li uma legenda outro dia com “visinho”, com s – nada mais simples do que achar seu lugar ao sol e fazer por onde. Mas é muito importante se tornar um tradutor profissional para isso. E não é difícil, não, vou dar algumas dicas mais abaixo para você ver que profissionalismo é puro bom senso.

Profissionalize-se!

Vou listar alguns princípios básicos que aprendi ao longo dos anos e que faço questão de seguir de agora em diante como tradutora profissional.

Revisão

Como é importante passar pelo aval do próximo, nossa! A perspectiva do texto muda completamente. Erros crassos que seu olho viciado lendo aquelas 17 mil palavras infindáveis não pegou são detectados facilmente por um leitor novo do mesmo texto. Eu sei, eu sei – na correria do dia a dia frenético que temos, revisão virou artigo de luxo. Mas bato na tecla ainda assim. Até mesmo uma auto-revisão no final do seu trabalho, facilitada com ferramentas como mudança drástica da fonte para “desviciar” seu olhar, provam ser, no final das contas, uma escolha bem acertada.

Correção ortográfica

Sua CAT tem corretor, seu Word tem corretor, internet tá aí cheia de recursos. Por que, então, ainda passam erros como “visinho”? Sinceramente, acho imperdoável. Se acontece comigo passo três dias chorando embaixo do edredom. Paralisação, por exemplo, me dói escrever com S, mas nunca mais errei depois que o corretor pegou a primeira vez.

Por sinal, não confundir correção ortográfica com correção gramatical, hein? Tem uma diferença.

Pontualidade na entrega

Vou fazer uma confissão: provei do meu veneno recentemente nesse quesito. Falo tanto disso aqui no blog e acabei aprendendo na marra a me atentar aos horários de entrega, não só às datas. Foi assim: jurava que um documento era para ser entregue no final do dia e na verdade era para o começo, em outro continente. Sabe o que aconteceu? Seis e meia da manhã de uma segunda ligaram para meu telefone fixo. Sim, a agência me cobrando o documento lá do outro lado do mundo. A gente é só um pedaço da cadeia de produção, se acha insignificante, aí vem o mundo real e te dá aquele sacode dizendo: “Acorda, tradutor!”

Preços

Profissionalize-se nesse quesito também, é importante. Pessoalmente, tive essa luz com uma colega que encontrei no último congresso que fui. Conversando, reclamei com ela que estava cansada de tanto trabalho, sem tempo de descanso. Ela, uma tradutora bem mais experiente, só me disse assim: “Sinal de que pode cobrar mais”. Contando agora parece bem óbvio, eu sei, mas às vezes a gente precisa de alguém de fora nos contar para a ficha cair.

Profissionalize-se valorizando seu passe – seus clientes não hão de se incomodar de aumentar seu peço, quem valoriza um bom serviço sabe o quanto isso vale a pena no final das contas. Tradução barata tem todo dia no jornal, precisando de um serviço de qualidade, as pessoas pagam o que é justo. E se não pagarem, sinal de que esse cliente nem era tão bom assim, vai?

Façamos por onde para seguir evoluindo. Evoluindo e organizando o nosso balaio aos pouquinhos.