Traduzir é fazer e assumir escolhas

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Filosofando dia desses, cheguei à conclusão que ser um bom tradutor é, antes de mais nada, fazer escolhas. Traduzir é fazer e assumir escolhas. Sendo uma atividade subjetiva, muitas vezes temos mais de uma opção de tradução de um termo. Portanto, bater o pé e decidir que vai ser isso ou aquilo é uma atitude consciente. Uma escolha que você fez.

Quando eu era iniciante, o  que acontecia muito comigo era não saber pesquisar a fundo determinado termo e, na falta de tempo, escolher o que “dava pro gasto”. Com o tempo acabei descobrindo novas fontes e referências e me sentindo mais segura para dizer, com propriedade, que traduzi o termo x por y porque encontrei no site tal, no jornal tal, na publicação de respeito tal.

E quando não podemos assumir essa escolha?

Obviamente, existem os termos que simplesmente não existem na sua língua-alvo, exigindo uma decisão distinta. Afinal de contas, traduzir não é uma atividade exata como matemática: o tapume que usamos aqui para cobrir uma obra não é usado naquele país ou pelo menos não é feito do mesmo material. O equipamento para esportes na neve não tem importância aqui nos trópicos porque “eu não sei do que você está falando” e tantos outros exemplos.

Você sabe o que é adaptação?

Daí a importância da adaptação na tradução, recurso esse que depois do meu curso de intérprete aprimorei bem mais. Pense bem: o tradutor tem muito mais tempo e recursos que o intérprete para pensar numa solução ideal. Por que você vai quebrar a cabeça procurando a tradução de “queijo coalho” e seguindo só um linkzinho que propôs uma tradução meia boca se pode simplesmente explicar, na sua língua-alvo, que esse queijo chamado coalho é meio durinho e mais salgado que a média?

Ao traduzir, sempre temos que ter em mente quem vai ler o seu texto no final das contas. Leve seu leitor em consideração!, a cultura da língua dele, a lógica do pensar dele.

Exemplo: é mesmo importante traduzir “MS” por State of Mato Grosso do Sul toda vez que aparecer? Se o assunto principal do artigo é “populações indígenas”? Não posso omitir essa sigla sem sentido ou o nome imenso em uma língua tão não familiar? Do mesmo modo, na direção contrária (para os sul mato-grossenses não se ofenderem), as iniciais dos middle names de americanos vão fazer tanta falta assim em português? Reflita e assuma suas escolhas.

Controle de qualidade!

Terminou de traduzir? Leia seu novo texto com os olhos do seu leitor. Veja que informação está sobrando ou faltando. Não é uma questão de trair o autor (a culpa é sempre nossa, deixa pra lá), mas sim de entregar um bom produto para o seu leitor final.