Segredos sobre tradutores desvendados

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Sabe por que São Jerônimo virou santo? Porque ele traduzia sem Google, coitado. Mas você pode ver pela imagem acima que até ele hoje em dia recomenda que você usufrua de todo o potencial desse índice de todo o conteúdo da Internet para usufruto próprio. Quer saber mais segredos sobre tradutores desvendados? Vem comigo!

Precisamos deixar alguns fatos sobre tradução bem claros por aqui. Pessoal anda confundindo muito as coisas, nada melhor do que uma tradutora de verdade, e não o Google Translator, para contar uns segredinhos a saber:

Tradutores não são necessariamente bilíngues

Não sei como isso se dá com meus colegas, mas sempre que conto para alguém que sou tradutora, a pergunta na sequência é “só de inglês?” (adoro a ênfase no “só”). Como se dominar só um idioma estrangeiro não fosse lá muito trabalho assim. Idioma esse que, veja bem, nunca vou dominar com a naturalidade de um falante nativo – nunca é uma palavra muito forte. Talvez, se estudar dia e noite para tal, mas são casos raríssimos.

Absolutamente todas as traduções que faço são por meio de pesquisa intensa de vocabulário, regência adequada e contexto preciso. Daí eu poder afirma que “dissertação” é “thesis” e “tese” é “dissertation”,  que uma coisa “depends on” e não “of” outra coisa, que uma patente é sempre depositada – “filed” – nunca “arquivada”.

Daí a grande diferença da tradução – passar um texto do idioma estrangeiro para o idioma materno – para a versão – passar um texto do idioma materno para o idioma estrangeiro.

Em português, eu sei que a expressão correta é “envidar esforços” sem ter que recorrer a um dicionário, simplesmente porque eu domino o meu idioma pátrio nesse nível. Em inglês, eu tenho que checar direitinho no dicionário o que é um “snowshoe” porque eu nunca vi neve na vida, sabe. E adivinha: se chama “raquete de neve”. Sem o Google, quando que um dicionário em papel ia se dar ao trabalho de explicar para um tradutor brasileiro um instrumento usado em países com neve?

Pedimos ajuda dos universitários!

Eu vou te confessar uma coisa: super colo minhas traduções. Citações, por exemplo, outro dia me caiu aquela da Coco Chanel: “Vista-se mal e notarão o vestido. Vista-se bem e notarão a mulher”. Você acha que eu vou escrever isso em inglês por conta própria se todo mundo já conhece a frase mundialmente? Não senhor. Corro no Google, jogo “Coco Chanel quotes” e voilá, me aparece um lindo “Dress shabbily and they remember the dress; dress impeccably and they remember the woman.”

Mesma coisa para o que o Obama ou qualquer outro falante nativo de inglês disse, rótulos de xampu, aquela notinha que saiu no Financial Times e a Folha traduziu (mas isso é assunto para outro post). Não pense que se trata de falcatrua, é um meio de garantir uma tradução consagrada do que foi dito originalmente. Tradução da tradução nunca dá certo, vai por mim.

Não somos dicionários!

Eu poderia começar explicando que traduzimos ideias e não palavras específicas, mas para simplificar, só digo que: se a gente soubesse todas as palavras, não teríamos dicionários. De termos técnicos, de sinônimos, de regência. Etc. Etc.

Então vamos parar com essa história de ficar testando meu conhecimento me pedindo para dizer “cocada” em inglês ou coisa parecida. Qualquer assunto que você me pedir para traduzir, eu vou estudar com muito carinho com a ajuda do menino Google para melhor te atender. Não ache que sou uma tradutora melhor ou pior do que a média porque não sei o seu precioso termo de economia de cor. Se você é da área, nada mais do que sua obrigação saber isso.

Uma das grandes vantagens da minha profissão é justamente essa: trabalhar com todas as áreas, em mais de um idioma.