Pequeno manual do tradutor autônomo – Parte 2

visita conjugal

Depois de uma semana extremamente agitada, pensei em dar dicas absolutamente banais, mas que o tradutor autônomo sem estabilidade de um contracheque de valor exato no dia 20 tem a mania de esquecer. Preparem-se, então, para o Pequeno manual do tradutor anônimo – Parte 2.

Lição número 6 – Tenha fim de semana!

Aparentemente, Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. Se nem o Todo Poderoso deu conta, por que você daria? Afinal de contas, tradução é uma atividade intelectual extremamente cansativa para a mente – fins de semana, sonecas, pausas são essenciais para qualquer pessoa. Pensar cansa demais, acredite, não há motivo para se desesperar com qualquer hora livre que você tenha para produzir um pouco mais. Não vale a pena: caixão não tem gaveta, meu caro.

Além do mais, não há nada mais saboroso na vida do que a sensação do fim de semana vindouro. Aproveite essa pausa mental o quanto puder. Não sei se você sabe, mas Murphy é o padroeiro dos freelancers. Se não há trabalho, não há nenhum – se há trabalho, todos os seus clientes surgem ao mesmo tempo. Portanto, aproveitar qualquer folga que se tenha na verdade é uma economia para o futuro. Você consegue mais dicas de otimização do seu tempo aqui, aqui e aqui também.

Lição número 7 – Levanta dessa cadeira!

Aproveite a técnica do Pomodoro em um dos links ali de cima para dar uma voltinha. Vá fazer um xixi, encher sua garrafa d’água, ver o movimento da rua na janela, afofar seu cachorro. Qualquer coisa que te faça caminhar cinco minutos a cada vinte, para manter sua circulação ativa. É sério. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente, mas uma vez tive uma cãibra que durou dois dias. Nunca descobri do que se tratava, mas por via das dúvidas, nunca mais passo mais de meia hora sentada.

Se seu prazo final hoje impede você de fazer um exercício a mais de três metros de distância da sua cadeira – que eu suponho que seja ergonomicamente correta (a minha é essa aqui), faça exercícios de ginástica laboral. Encontrei esse maravilhoso link que mostra até o nível de humilhação que você vai sofrer no escritório! Problema zero para você, autônomo, que provavelmente trabalha no conforto do seu lar, sem ninguém te julgando.

Lição número 8 – Revise, revise, revise

Eu compreendo completamente o fato de você se achar o profissional mais absurdamente qualificado, o ás da digitação, o oráculo da tradução. Penso exatamente da mesma maneira, acredite. Mas assim que termino uma tradução, aperto o botão da correção ortográfica e baixo a minha bola bonito, porque “paralisação” é com S e “maciça” não, não tem SS hora nenhuma. Aí depois peço a ajuda dos universitários do Xbench (pode investir que vale muito a pena, galera) e vejo tantos espaços duplos que fico com vergonha.

Você é humano, amigão, deixe as máquinas fazerem o trabalho chato por você. Humildade e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Lição número 9 – Aceite críticas

Pegando o bonde da dica anterior, muitos clientes e agências têm o saudável hábito de nos passar feedback do nosso trabalho. Uma salva de palmas para eles! Acho essencial esse tipo de postura – todo e qualquer tradutor desse planeta precisa de uma segunda opinião. É bem fácil deixar um erro bobo passar na revisão, visto que você está lendo sobre aquele tema há dias e seu olho já está viciado. É sempre melhor ter uma perspectiva fresca do tema e os revisores são essenciais para isso. Quisera eu que o hábito do feedback fosse mais frequente na minha vida.

Lição número 10 – Cuidado com as redes sociais!

Acho louvável você estar presente no Facebook, Twitter, Linkedin. Há uma grande rede de contatos online e você pode se beneficiar muito com isso. Mas há certas posturas que as pessoas tomam que me deixam sinceramente confusa.

Gente que fala mal de cliente, colega, agência todo mundo na rede.

Oi? Está achando que está sozinho no quarto? Tá todo mundo lendo. “Ah, mas a pessoa não me segue/não é meu amigo no Feice”. Basta eu jogar seu nome no Google que eu acho. E se eu jogar o meu, o da minha empresa, algum termo do texto que estamos traduzindo juntos – e está lá está sua fofoca online? Já considerou a possibilidade? Te contar, viu.

Gente desconhecida que te adiciona no Linkedin.

Temos amigos em comum? Não. Trabalhamos na mesma área? Não. Já fui apresentado a você em algum momento da minha vida? Não. Por que, ó, por que eu aceitaria seu convite? Não estou falando – veja bem – de desconhecidos que te adicionam em busca de novas parcerias. Profissionais do mesmo ramo, potenciais novos clientes. Envie o convite junto com uma simpática mensagem (que, caso você tenha recebido, seja igualmente simpático ao receber). Comunicação básica e eficiente – funciona do mesmo modo na internet, não se preocupe.

Avatares nada a ver.

Vamos lá, cada perfil de rede social é individual. Então, número 1: nada de foto sua com seu mozão ou sua pitchuca porque, francamente, vocês não são siameses. Sua foto tem que ser profissional, ou seja, use uma roupa que você usaria para trabalhar. Seu novo biquíni lindo não fica bem com a luz do escritório, seu dia de princesa ia te destoar das colegas na ginástica laboral. Coloque uma foto simpática, simples e direta. Olhando para a frente, de preferência.