Simpósio Brasileiro de Interpretação

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O primeiro Simpósio Brasileiro de Interpretação que ocorreu na USP semana passada foi uma renovação de ares. É sempre bom presenciar colegas intérpretes engajados em debater as nuances da profissão e dividir suas experiências. A presença do proeminente Daniel Gile também foi um destaque. Para você que não é da área, Daniel Gile é o nosso Pelé dos teóricos – bem, o meu, pelo menos. Uma simpatia de orador, constantemente preocupado com os intérpretes lá no alto do auditório e – pasmem – de carne e osso.

Como recém-formada, fui apresentada a maiores detalhes de contextos até então inexistentes para mim. Gostei muito, em especial, da interpretação forense. Jaqueline Nordin apresentou um panorama muito informativo sobre as particularidades da interpretação que realiza nos tribunais de Guarulhos. Há mais de seis mil estrangeiros presos em uma penitenciária exclusiva para estrangeiros, a 500 km de São Paulo – homens e mulheres, em geral pegos com posse de drogas ilícitas. Como segundo a legislação brasileira, o réu tem direito de estar ciente sobre tudo do que é acusado, há a necessidade de um intérprete (ipsis litteris!) no recinto. Bem diferente do que praticamos em sala de aula, em condições ideais de temperatura e pressão.

A questão da provável futura necessidade de intérpretes de comunidade no Brasil, com a chegada de médicos estrangeiros no país, foi abordada por Érika Lessa. Sendo uma realidade tão comum em países multiculturais como o Canadá (o exemplo apresentado pela palestrante), foi muito interessante ver os pormenores de uma situação tão delicada para intérpretes. A Érika falou dos níveis de dores expressadas por uma mesma frase “está doendo aqui” – os níveis de uma dor de barriga, por exemplo. Aproveitando segue um exemplo bem incorreto de como atuar como interlocutor nesses casos. —>

A presença do corpo docente da PUC-Rio também foi um diferencial por meio das palestras de Denise Vasconcellos (sobre a preparação do intérprete), Christiano Sanches (sobre fidelidade na interpretação) e Branca Vianna, que falou sobre os testes de admissão para o curso da universidade.

As minhas mesas redondas favoritas, no entanto, foram a primeira e a última. Suzy Mizne, Ingrid Orglmeister e Ângela Levy, representando todas as pioneiras da profissão, deram um show falando sobre suas trajetórias na profissão. Foi uma excelente maneira de fechar o primeiro dia de simpósio! A mesa final, sobre interpretação para línguas que não o inglês, contou com a participação de intérpretes de italiano, francês, espanhol, alemão e até mesmo chinês e coreano! Novamente, muito interessante ouvir as observações de cenários tão exóticos.

Com coordenação impagável de John Milton da USP, o evento foi, de fato, um sucesso. Como participante, posso dizer que valeu muito a pena. Aguardo ansiosamente edições futuras 😉