Brasilianismos parte 2 – Rubem Braga

Passei o fim de semana passado em São Paulo e, claro, fui ao Museu da Língua Portuguesa. Se você ainda não teve chance de visitar, por favor não perca tempo. Além de o museu oferecer atrações lindas aos falantes, amantes e apreciadores em geral da Flor do Lácio, a exposição temporária atualmente é sobre Rubem Braga. Daí tê-lo escolhido para dar sequência à nossa série “Brasilianismos parte 2 – Rubem Braga”.

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Rubem Braga – autorretrato

Conheci Rubem Braga lendo a coleção Para Gostar de Ler quando era criança. A partir daí, caí de amores pelas crônicas dele, além de gente que formou meu caráter literário. A saber: Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Sergio Porto (vulgo Stanislaw Ponte Preta) e tantos outros que não vão caber nos limites desse blog.

Então deixo só um texto breve dele para a gente entender um pouco da nossa própria brasilidade:

As boas coisas da vida

Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fez esta pequena lista:

– Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.

– Tomar banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem.

– Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito – e ser aplaudido pelos serventes de pedreiro.

– Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.

– Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade – ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.

– Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne – a mulher que não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.

– Viajar, partir…

– Voltar.

– Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio

– Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado descanso eterno.